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Supermercado do centro
comercial das Amoreiras, fim da tarde de terça-feira. Uma jovem mãe,
acompanhada do filho com seis anos, está a pagar algumas compras que fez:
leite, manteiga, fiambre, detergentes e mais alguns produtos.
Quando chega ao fim, a
empregada da caixa revela: são 84 euros. A mãe tem um sobressalto, olha para
o dinheiro que traz na mão e diz: vou ter de deixar algumas coisas. Só tenho
70 euros.
Começa a pôr de lado vários
produtos e vai perguntando à empregada da caixa se já chega. Não, ainda não.
Ainda falta. Mais uma coisa. Outra. Ainda é preciso mais? É. Então este
pacote de bolachas também fica.
Aí o menino agarra na manga
do casaco da mãe e fala: Mamã, as bolachas não, as bolachas não. São as que
eu levo para a escola. A mãe, meio envergonhada até porque a fila por trás
dela começava a engrossar, responde: tem de ser, meu filho. E o menino de
lágrima no canto do olho a insistir: mamã, as bolachas não. As bolachas não.
O momento embaraçoso é
quebrado pela senhora atrás da jovem mãe. Quanto são as bolachas, pergunta à
empregada da caixa. Ponha na minha conta. O menino sorriu. Mas foi um sorriso
muito envergonhado. A mãe agradeceu ainda mais envergonhada. A pobreza de
quem nunca pensou que um dia ia ser pobre enche de vergonha e pudor os que a
sofrem.
Tenho a certeza que o
ministro Vítor Gaspar não conhece este menino, o que seria obviamente muito
improvável. Mas desconfio que o ministro Vítor Gaspar não conhece nenhuns
meninos que estejam a passar pela mesma situação. Ou se conhece considera que
esse é o preço a pagar pelo famoso ajustamento. É isso que é muito
preocupante.
(Nem me atrevo a fazer qualquer comentário ao que o autor escreveu. E assim vai este país...) |
Espreitem o Pé de Vento [23/Março/04] sem medo ou sustos, pois é apenas uma leve brisa que sopra do coração.
22 novembro 2012
O menino que Gaspar não conhece
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E estas histórias são cada vez mais frequentes.
ResponderEliminarNem quero pensar no que se avizinha.
Já levo calculadora e vou somando os itens para a conta não exceder o limite. Não me envergonho. Estar desempregada não é opção. Não existem empregos. tenho culpa?
Oxalá algo de mágico aconteça ou estas situações piorarão muito mais.
Mesmo assim ainda tinha 70 €.
Quem dera muita gente ter esse dinheiro para os bens essenciais.
Beijinho e fica bem.
Uma notícia triste porque envolve uma criança; fiquei tocado, sem reacção, sem forças. A personalidade de qualquer ser humano forma-se até aos 6 a 7 anos.
ResponderEliminarEstes episódios vão nos marcar quando esta criança fôr adulta e aí surgem comportamentos que quem nos rodeia não entende, mas esse adulto que foi criança, recordará com tristeza este episódio com a sua mãe.