O casamento depende igualmente das mulheres e dos homens, estando estas, hoje em dia, menos voltadas para o casamento do que em qualquer período da história. No passado, as mulheres foram economicamente dependentes do casamento e assumiram uma responsabilidade desproporcionalmente pesada para manterem o vínculo, mesmo que o relacionamento subjacente estivesse sério ou irremediavelmente deteriorado.
Contudo, no último terço do século XX, como as mulheres tiveram maiores oportunidades de conseguir um emprego pago e viram aumentada a disponibilidade de infantários, ficaram menos dependentes do casamento como forma de sustentação económica. Ainda que não seja fácil, é possível às mulheres criarem os filhos sozinhas. Isto fez com que o divórcio se tornasse muito mais atractivo como um remédio para um casamento insatisfatório e um número crescente de mulheres tenha extraído vantagem da opção.
A debilitante ligação da mulher ao casamento não deve ser encarada como uma falta de interesse pelo casamento ou pela parceria marido – mulher na criação dos filhos. Pelo contrário, é um sinal dos padrões emocionais mais exigentes das mulheres para com os maridos e da crescente persistência para que os homens participem em maior grau na criação dos filhos e da família. Dada a sua dupla responsabilidade como ganha pão e mães, muitas mulheres com emprego acham a necessidade de reforço do ego do homem e outras formas de manutenção emocional e física aborrecidas, para além do seu fracasso na partilha do trabalho doméstico e na custódia dos filhos, que consideram absolutamente enfurecedores.
" Se as mulheres solteiras podem fazer sexo, ter as suas próprias casas, o respeito dos seus amigos e um trabalho interessante, não têm necessidade de dizer a si próprias que qualquer casamento é melhor do que nenhum. Porque não ter um filho sozinha? As crianças são uma alegria. Muitos homens não o são."
O acordo tradicional entre homem e mulher foi quebrado, e ainda não foi celebrado um novo contrato. É impossível prever como será o novo acordo ou se existirá um. Contudo, é possível especular acerca dos pontos em agenda que podem levar as mulheres à mesa das negociações. Primeiro, uma cláusula crucial: deverá ser reconhecida a mudança do estatuto social e económico da mulher. Qualquer esforço para repensar o casamento deve aceitar o facto de que as mulheres continuarão a trabalhar fora de casa.
Portanto, deverá ser acertado um novo acordo sobre a divisão do trabalho pago e do trabalho familiar. Isto não significa necessariamente uma divisão 50/50 do trabalho em cada simples dia, mas significa que os homens deverão fazer um esforço determinado e consciente para executarem mais que um terço das tarefas domésticas. A forma como cada casal vai chegar a um acordo justo irá, certamente, variar, mas o objectivo é estabelecer um entendimento e um compromisso mútuos que conduzam a uma divisão equitativa das tarefas
Dar o sim a uma união dispensa papéis. Talvez por isso sejam tantos os que fazem questão de assumi-la. A opção de contrair matrimónio revalorizou-se. Simboliza a intenção de viver o amor de forma plena.
Os casais que permanecem juntos por vontade própria - e não por comodismo ou restrições legais que deixaram de existir nas últimas décadas - e que se assumem realizados e "vivos" no casamento, conseguiram lidar com divergências e conflitos a ponto de não lhes atribuir uma importância de vida ou de morte, que ponha em causa a sua união. Os casais que rejubilam com as bodas de prata e continuam a sentir-se gratos por permanecerem de mãos dadas descobriram, à sua maneira, a mais-valia preciosa do relacionamento que é viver noutra velocidade, a ritmos mais cálidos que escaldantes. Só a pessoa que conhece e aceita o ar com que acordamos de manhã, que compreende as nossas manias e ataques de nervos (nem sempre, mas esforça-se...) é capaz de passar a barreira das ondas e deslizar, seguro, até ao fundo do mar e das águas correntes, sendo essas que confortam, para lá do que se passa à superfície.
Como surge a motivação para casar? Portugal distingue-se da média europeia, entre outras razões, pelo facto de as pessoas se casarem mais cedo. As heranças culturais terão uma influência decisiva neste campo, mas a ideia de formalizar uma união pressupõe de algum modo a convicção de que ela tem o potencial para dar certo. Este sentimento de fé não tem de alicerçar-se em provas de amor, mas sim na disposição pessoal para se identificar com outro e expormo-nos regularmente perante ele.
É hoje socialmente admissível – e normal – ser feliz, não através de um único, mas de diversos relacionamentos, vividos sucessivamente, com a emergência de um "novo amor". Na era das famílias "dos teus, dos meus e dos nossos [filhos]", há contudo quem acredite ainda no amor de morada única – o coração da pessoa que se elege para companheiro de estrada.
É a favor do casamento? Acha que ele, enquanto instituição, está condenado? Uniões de facto, divórcios, responsabilidades e culpas repartidas, fazem parte do seu dia a dia? Tudo isto leva-me a questionar, a rever comportamentos, formas de ser e estar. Meus pais estão casados há 45 anos, união duradoura, mas nada fácil, com imensos escolhos pelo caminho, mas permanecem juntos até hoje. O que os levou a permanecer? O que nos leva a não permanecer? Que futuro? Que passado? E acima de tudo, que presente, para todos nós, que buscamos a felicidade, a harmonia e o bem-estar?
angelis
Espreitem o Pé de Vento [23/Março/04] sem medo ou sustos, pois é apenas uma leve brisa que sopra do coração.
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