Moncorvo, 3 de Abril de 1956
Branquinha
Decerto que ao abrir esta carta, ficará admirada ao
verificar, por quem ela é escrita, mas o caso é que não posso esconder por mais
tempo, o que o meu coração desde há muito ambiciona.
Só longe de si, é que avalio o grande amor que lhe tenho, e
como não podia deixar para mais tarde, o que já há muito sinto por si, formulei
esta hoje, desejando que, a resposta venha de encontro aos meus desejos.
Bem sei que ao ler esta carta dirá, este rapaz não terá
juízo, o caso não é para menos, pois que dirá logo namora com outra e vem
declarar o seu amor por mim.
Mas não, o que sinto por si, já não é de hoje, talvez por
acanhamento nunca lhe disse, julgo que, deve ter notado, já quando estava no
Fortunato, mesmo pelos meus colegas, já sabia o que eu sentia.
Nunca lhe o quis dizer que a amava, para que não julgasse
que era brincadeira.
Mas a brincadeira tomou proporções de tal ordem, que hoje,
dentro do meu coração não cabe outro amor, que não seja aquele que sinto por
si.
Talvez diga para si, o mesmo já disse a outras, comigo não
levas a melhor.
Mas não Branquinha, sabe muito bem, que com as outras era
uma brincadeira, o que consigo não será, pois que já tenho idade para pensar na
vida a sério, e o que procuro é uma mulher que me compreenda e seja para mim a
futura mãe dos meus filhos.
Nada mais ambicioso nesta vida, pois é para o que todos os
nós homens lutamos, construir um lar.
Não quero deixar de não falar no namoro que tive, para que
não julgue que ainda namoro com ela, no domingo de Páscoa ficou acabado entre
nós, pois que já eram horas de terminar com um namoro, de onde não podia tirar
proveito, visto que não reunia o ideal, que para mim representaria no futuro.
Espero que não leve a mal esta minha ousadia, aguardo pois
correspondência sua, para a direção que abaixo menciono, onde me devo encontrar
sábado.
Se não me julgar merecedor do seu amor, peço-lhe que queime
esta, no entanto, conto na mesma com a sua amizade.
Aguardando a sua resposta com a maior ansiedade, assino-me
Jorge
PS: esta carta foi escrita pelo meu Pai á minha Mãe e estiveram casados 58 anos, até o meu Pai falecer. Já não há amores assim.
Sem palavras... simplesmente maravilhoso.
ResponderEliminarBem-hajas pela partilha.
Tudo de bom.