05 maio 2006

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem sorte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte,
Sou a crucificada...a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo para me ver
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca, Livro de Mágoas

6 comentários:

  1. Esta poetisa é das minhas preferidas. E este soneto parece um Aviso prévio de algo.

    Eu também às vezes sinto que:

    "Sou aquela que passa e ninguém vê...
    Sou a que chamam triste sem o ser...
    Sou a que chora sem saber porquê..."

    A diferença é que eu choro e sei porquê...
    Bom fim de semana, amiga.
    Ah, e na poesia por vezes estão grandes mensagens. Basta decifrá-las atempadamente...
    Beijinhos

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  2. A inaudita Flor...
    E a verdade é que foi quase sempre:
    "Sombra de névoa ténue e esvaecida"
    E quis o "destino amargo, triste e forte" fazer dela uma "Alma de luto sempre incompreendida", conforme peviu nas suas próprias palavras, apesar de quase nunca tentar contrariar essa tendência...
    No entanto, conseguiu ser plena e arrojada em tudo a que devotou a sua vontade.

    Bom fim de semana,
    Luís

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  3. A questão é:
    E fez alguma coisa para tentar inverter a situação?
    Gosto muito de Florbela Espanca.
    Gosto muito deste soneto. Gosto do modo em que exprime os seus sentimentos. Mas também acho que (além do dom da escrita) tinha muito de masoquista.
    Aquele abraço.

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  4. Gosto imenso da Florbela Espanca, mas pelo que aprendemos ela era uma pessoa muito sofrida, talvez até maltratada pela vida, não é verdade?
    Ah, temos que combinar o nosso encontro (estou ansiosa por ler o "Palavras à Solta").
    Beijinhos.

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  5. "Eu sou", quer dizer...ela era. A Florbela Espanca. Boa semana.

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  6. A magia dos poemas da Florbela.
    Fica bem.
    Bjs.
    Manuel

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