O prometido é devido, e como tal...aqui publico as cartas recebidas, em resposta ao meu desafio.
Estão numeradas por ordem de chegada, e são publicadas na integra.
Como se efectuará a votação da carta mais original ou mais emotiva?
De forma muito simples e directa...comentem as cartas publicadas e digam de qual gostaram mais...simples, directo e eficaz.
Assim, todos ficarão a par da votação e das preferências dos leitores.
Vá lá...não se inibam...é só soltar a criança que existe em vós
CARTA NÚMERO UM
Pai Natal
Espero que ao receberes esta carta, estejas de óptima saúde e excelentes condições físicas para enfrentares o trabalho que nesta altura do ano aparece.
Confesso que é a 1ª vez que te escrevo. Nos anos anteriores tenho escrito ao Menino Jesus, mas, das duas uma, ou a minha mãe engana-se ao colocar a morada no envelope, ou então o Menino Jesus não existe (ou não gosta de mim).
Por isso, este ano decidi, com a ajuda de um amigo mais velho por causa dos erros ortográficos, tomar a iniciativa de te escrever. Se a minha mãe decidir na mesma que devo escrever ao Menino Jesus eu faço de conta, e tu não lhe digas nada.
Para este ano eu gostaria de ter (e volto a pedir) simplesmente uma caixa de guardar os lápis, mas daquelas de dois andares. Sabes quais são? Igual à do meu amigo Francisco (aquele dos cabelos aos caracóis e que canta no coro da escola), mas, para não haver trocas ou enganos na sala, a minha caixa pode ser com tampa sem cor porque a dele é amarela.
E pronto, é só isto que eu gostava de ter no Natal. Claro que a minha mãe diz que devemos pedir sempre saúde, paz e bem estar, mas acho que todos pedimos e queremos isso, por isso não me vou repetir.
No entanto, se as caixas estiverem esgotadas, podes sempre arranjar um livro do Príncipe Valente, Zorro ou Mascarilha que são os meus preferidos e por favor Pai Natal, não quero carros da polícia, pijamas, meias ou cuecas. É tudo Pai Natal. Tem cuidado contigo e podes deixar a minha prenda junto ao meu sapato que na manhã do dia 25 eu vou buscar.
PS: - Pai Natal, tu mandas alguma coisa no mundo dos mais velhos? Se tens alguma influência peço-te que faças com que a minha mãe não ponha muitas vezes na marmita do almoço (que levo para a escola) arroz de legumes….se é complicado almoçar todos os dias à frente da Professora (D. Sofia), comer arroz que não gosto ainda é pior.
- Outra coisa que já me esquecia: Quanto ao pedido que faço todas as noites antes de adormecer (tornar-me rapariga para não ir para a guerra) esquece. O meu amigo João disse que nessa altura, a guerra já deve ter acabado e se não acabar…fugimos os dois para França, mas não digas a ninguém pois caso contrário aqueles homens maus que andam na rua de gabardina e chapéu preto que já prenderam uma vez o meu avô, podem vir buscar-me também e não posso ser preso porque logo que acabe a escola vou trabalhar para ganhar dinheiro.
Pronto, está tudo. Bom Natal para ti e teus ajudantes e muito obrigado.
Teu amigo sincero e que gosta muito de ti.
Berto
CARTA NÚMERO DOIS
Querido Pai Natal,
este Natal, eu não devo merecer grande coisa, pois fui mauzito para a minha mamã e para o meu mano, mas como tu és misericordioso, tem pena de mim e dá-me o que abaixo te peço:
Quero deixar de fantasiar
Quero um cavalo de verdade
Para passear na minha cidade
Como passo a vida a imaginar
Um cavalo castanho e lustroso
Igual àquele do qual falo
Para seu espanto e regalo
Ao meu amiguito Barroso
Quero um cavalo bem verdadeiro
Para trotar pelos verdes montes
Para me portar melhor comigo contes
Pois depois de me tornar cavaleiro
Serei o melhor entre os primeiros
Não hesites nem te amedrontes.
Paulo César Nunes
CARTA NÚMERO TRÊS
Querido Pai Natal:
Eu sei que não me conheces, pois nunca te escrevi. Contudo, na minha infância, o meu Pai Natal sempre me deu mais do que pedia. Era ( e sou) guloso por isso não me esquecia de pedir um chocolate em forma de sombrinha, mais outro em forma de gato e um outro em forma de Pai Natal; depois lá vinha sempre mais uma camisolinha, pois aqui para as bandas da Covilhã faz um frio de rachar, mais umas peúgas e um par de botas verdadeiras e boas e não daquelas que, mesmo já de adultos, não sabemos como havemos de descalçá-las...
Mas hoje resolvi aceitar o desafio de uma boa amiga e escrevi-te pela primeira vez. Não venho pedir-te chocolates, pois a glicemia parece querer entrar comigo, nem espero que me mandes camisolas ou peúgas. Sabes, o meu Pai Natal resolveu partir há um ano atrás e desde então os dias para mim deixaram de ser Natal; por isso na minha crença de menino - adulto venho pedir-te tão somente isto: Ajuda aí o meu Pai Natal pois ele ainda é tão pequenino e ensina-lhe o caminho mais directo para Deus. Faz-me este favor, pois tenho a certeza que quando chegar a minha vez, o meu Pai Natal me vai dar como prenda o ensino deste caminho desejado.
Um bom e feliz Natal para todos os amigos e amigas da Angela. Para a Ângela um grande beijinho e um xi coração muito amigo.
ZÉ
CARTA NÚMERO QUATRO
Querido Pai Natal.
Não me reconheces.
Não te escrevo à tanto tempo, que até te esqueci.
Apenas me lembro vagamente de ti nesta quadra que agora atravessamos
e apenas porque os meus filhotes fazem questão de recordar da tua existência.
Sabes,
Estou mudado.
Mais alto.
Mais gordo.
Mais careca.
Mais atarefado.
Mais cansado e mais triste e sisudo.
Não me reconhecerias.
Lembro com saudades quando, apareciam na base do pinheirinho,
aqueles carrinhos de bombeiros, com escada extensível e tudo!
Diziam-me que eras tu, durante a noite de consoada, que entravas pela
chaminé e os depositavas com carinho, por me ter portado bem durante o ano.
Mas esqueciam-se de um detalhe.
Nós não tinhamos lareira nem chaminé.
Desconfiado, calava-me e deixava os meus pais, com um sorriso nos lábios,
contarem-me as tuas aventuras.
Que vivias no Pólo Norte.
Tinhas as renas para puxar o trenó.
Os duendes para fabricar os brinquedos.
Balela, pensava eu.
Porque, como sabes, sempre fui muito curioso e gosto de perguntar tudo quando não compreendo.
Nunca me respondiam... furtavam-se em evasivas inconsistentes e ocas.
Deixei de perguntar.
Assassinei-te na minha inconsciência.
Ouvia apenas, as renovadas historietas.
A minha opinião estava já formada.
E assim continuou a minha meninice, até me esquecer completamente da tua existência.
Hoje, a expensas de uma amiga chamada Anjo, tive de forçar a minha razão para te visualizar e recordar.
Neste esforço de memória, analisei a minha infância e o quanto estiveste presente, até te desacreditar.
No entanto, aprendi uma lição.
Só tenho um pedido a fazer-te.
Se puderes...
Faz-me novamente criança... mas mais crédulo!
Protege-me da emancipação precoce, a que fui incentivado pelos parentes.
- "... tão esperto! Tão novo e já pensa como um homenzinho. Tem atitudes e pensar de adulto."
Deixa-me brincar e viver, o que não vivi enquanto criança que não teve tempo de o ser!
Deixa-me crer!
Faz-me ser humano por completo, na vivência infantil e na temperança do ser adulto.
Deixa-me acreditar-te.!
Sabendo que não existes como ser físico.
Mas deixa-me compreender também, o quanto és necessário para complemento
do imaginário infantil!
Em suma!
Deixa-me tentar alcançar a minha felicidade.
Quero a minha meninice de novo!
Deste que te recorda vagamente...
E só agora compreende, qual o teu papel no imaginário infantil...
Hohohoho
BOM NATAL
Luís
DEZ-2005
CARTA NÚMERO CINCO
Cartinha ao Pai Natal
Querido Pai Natal,
que és tanto barbudo,
escrevo esta carta
não vou pedir tudo:
Quero lápis p’ra colorir
um mundo especial
de cores a bom sorrir.
Se tiveres mais caixinhas
a Pipoca vou convidar.
Sei que ela vem logo
está pronta p’ra pintar.
Também queria pedir:
(Vê lá se adivinhas?)
Camisinhas de dormir...
Mas não é para mim
é para quem tem frio
e vive sem pai nem mãe
[até me dá um arrepio].
Agora não peço mais,
a carta está no fim.
Com beijinhos especiais!
Azoriana
CARTA NÚMERO SEIS
Querido Pai Natal
Já há muito tempo que não te escrevo, não por te ter esquecido, pois na minha profissão, tu és lembrado a cada Natal, através da inocência das crianças com quem trabalho, mas porque, agora adulta…às vezes, esqueço-me que tu existes no meu imaginário, todos os dias da minha vida.
Lembro-me dos Natais da minha infância, em que ia pôr o sapatinho na chaminé da casa dos meus avós maternos, em casa da minha tia Lucília, e em casa do meu avô paterno. Lembro-me dos meus primos, trazerem, também eles, o sapatinho para porem na chaminé de minha casa.
Lembro-me de pensar, como é que tu adivinhavas o que pedíamos, como tinhas tempo de comprar todos os presentes, de atenderes a todos os pedidos de todas as crianças do mundo.
Lembro-me das rabanadas acabadas de fazer, do jantar em família (confesso que na altura não gostava das batatas cozidas com bacalhau), de jogar o loto com o meu tio Mário (a feijões, é claro, pois as crianças não jogam a dinheiro), da árvore de Natal. Íamos sempre com o meu pai, cortar um pinheiro para enfeitar, na altura ainda havia imensos pinheiros e podíamos fazer isso. Ele barafustava sempre, mas acabava por nos fazer a vontade, a mim e à minha irmã. De apanharmos musgo para fazermos o presépio com a minha mãe e a minha irmã.
Hoje, todas essas lembranças afloram á minha mente, ao meu coração, deixando uma saudade incrível, mas também a alegria de recordar os Natais da minha infância, onde imperou sempre o amor e a união familiar.
A hora de ir dormir, era a pior, pois queríamos ficar acordadas, queríamos ver-te chegar, queríamos dar-te um abraço.
A noite era longa, a excitação tomava conta de nós e quando, finalmente o dia raiava…lá íamos nós a correr para a chaminé e agarrar os presentes que tu tinhas deixado para nós, direitinhos nos respectivos sapatinhos, sem te enganares ou trocares presentes.
Que alegria, que confusão de papéis de embrulho e laços espalhados pelo chão, e acima de tudo, que satisfação por termos os nossos pedidos e sonhos atendidos.
Esta magia, desses Natais passados, não volta mais, eu cresci, e alguns familiares já morreram, mas ficará sempre a saudade, a lembrança, dessa partilha, que enquanto menina – mulher revivo em cada Natal com as crianças na escola e em família (com aquela que ainda permanece entre nós) e sorrio, porque só posso sorrir, por ainda acreditar, por permanecer viva a criança que sou e serei sempre.
Tu, Pai Natal, serás sempre parte integrante do meu imaginário de menina e de mulher, serás sempre o velhinho de barbas branquinhas que atende os sonhos inocentes de todas as crianças.
Angelis
CARTA NÚMERO SETE
Querido Pai Natal,
Vão longos os anos após os quais deixei de escrever-te, ainda que secretamente sempre te tenha dirigido os meus pedidos, tão característicos desta época que agora vivemos. Os meus pais falavam-me muito de ti, mas cedo descobri que eram eles que te ajudavam a fazer a entrega das prendas, pois apanhei um dia a minha mãe a esconder as prendas em cima da estante do corredor. Fiz de conta que não reparei e deixei-a ficar convencida de não tinha visto nada. Quando entrei para a escola, ela tentou dizer-me que tu não existias (porque eu continuava sempre a falar de ti), antes que algum menino mais expedito o fizesse. Sabes o que lhe respondi? "Eu sei, Mãezinha." E mais nada... Mas sempre exististe no meu coração.
Entretanto, muitos anos passaram e, como acontece com todos nós, a minha vida mudou muito. Cedo comecei a dizer adeus àqueles a quem mais amava e, neste momento, a recordação dos natais da minha infância resume-se unicamente à minha memória, pois já não tenho com quem partilhá-la. Sei que todos eles estão bem aqui, juntinho de mim, vivendo num canto do meu coração. Sei também que, de uma forma mágica, todos eles estão a ajudar-me a escrever-te esta cartinha.
Sabes Pai Natal, nunca mais pensei que fosse possível ter vontade de escrever-te outra vez, pois na correria em que vivemos no mundo de hoje (que cada vez mais sinto não se justificar) é difícil conceber o "gastar tempo" com um acto como este. No entanto, uma menina (na verdade, um anjo) cujos cantinhos virtuais muito gosto de visitar (embora nem sempre deixe por lá marca da minha passagem) desafiou-me. Ignorei o primeiro ímpeto, aquela vontade imediata de responder, mas hoje, sentada à secretária, tendo ao meu lado a luz suave uma vela a aquecer esta noite fria de Inverno e a confortar-me a alma, decidi fazê-lo.
Sabes Pai Natal, não gosto de pedir nada, nem mesmo a ti. Tenho andado muito triste e é-me difícil conceber algo que deseje mais do que voltar a sorrir. Ainda assim, vou fazer um esforço: Por favor, mesmo sabendo que tens a agenda ocupada e muito preenchida, toma conta de todos quantos se encontram sós e abandonados, seja por que motivo for, e ampara-os, nem que seja por uma só noite, para que o seu coração e a sua alma possam conhecer um bocadinho do conforto que tantos de nós desprezamos e ignoramos na nossa inconsciente certeza de o termos como dado certo e adquirido. Protege os idosos e as crianças, dá-lhes saúde e fá-los sorrir. Ilumina o Mundo com um pouco de paz e, nem que por um dia apenas, traz-nos harmonia. Por fim, peço-te, abençoa os meus amigos, o meu amor e respectivas famílias; enfim, todos aqueles que me dão uma razão de viver, e os meus "meninos" felinos, que são a minha companhia e a luz dos meus olhos, mesmo tristes.
Sabes que há ainda algo que muito desejo, mas isso é algo que fica só entre nós, não precisa de palavras escritas e, confio, saberás quando conceder-me esse tão ansiado presente.
Até sempre Pai Natal!
Rosália ***
Espreitem o Pé de Vento [23/Março/04] sem medo ou sustos, pois é apenas uma leve brisa que sopra do coração.
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