01 junho 2004

Ver além...



Olho para o azul do céu e meu pensamento perde-se nessa imensidão azul apenas recortada pelas árvores frondosas que agitam os seus ramos ao sabor da brisa que sopra.
Nesse olhar perdido, parado, meu pensamento vagueia por lembranças, por recordações, por horas passadas.
Perco-me nas lembranças felizes da minha infância, onde traquina brincava, corria, ria e sonhava. Rapidamente sou trazida ao presente, ao presente que vivo diariamente com as crianças com quem trabalho. Olho seus rostos, alguns tristes, alguns marcados, alguns sorrisos malandros e a eterna alegria de ser criança.
O que mudou? Tento lembrar com mais exactidão a minha infância, mas perco-me nos corredores do tempo…tempo em que jogava à bola com os meus vizinhos, que brincava “às casinhas”, aos cowboys, aos policias e ladrões, tempo em que acreditava no sonho, na lua que me seguia, nos cães que falavam, e na velha boneca de trapos.
Ao que e com que brincam as crianças de hoje? Não sabem brincar…passam horas enfiadas nos infantários, passam horas enfiadas nas escolas e depois nas actividades extra curriculares, passam horas sozinhas em casa, em frente ao vídeo, ao computador, crescem sozinhas de valores, de afectos, de brincadeiras, de sonhos, crescem sem saberem que foram crianças.
De quem é a culpa? Dos pais? Da sociedade? Da escola?
É preciso ver mais além…é preciso parar e pensar para onde queremos levar estas crianças, como as queremos criar, como queremos que elas cresçam.
Dizem que a taxa de natalidade diminuiu e vai continuar a diminuir no nosso pais, somos um país de velhos, o interior está deserto e os grandes centros desenraizados de valores culturais, de valores morais e sociais.
As cidades crescem desordenadamente, sem espaços verdes, sem espaços seguros para as crianças poderem brincar e dar espaço ao sonho, à fantasia. Os pais absorvidos pelo trabalho, pela correria diária não têm tempo, as escolas não têm meios, não têm recursos e entramos num circulo vicioso de culpas, numa rotunda sem saída, andando às voltas, às voltas sem encontrar respostas ou soluções.
É preciso ver mais além…parar um pouco, pensar, reflectir…é preciso que as crianças sejam crianças no tempo certo, com espaço para o sonho, a brincadeira, os sorrisos e os afectos, e não só hoje que é Dia Mundial da Criança, mas todos os dias, pois estas crianças nascem, sonham, sorriem e muitas delas morrem sem saber que foram crianças.
É preciso sorrir, é preciso ver e ir mais além…

Angelis

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