Natália de Oliveira Correia nasceu na ilha de São Miguel – Açores, em 1923. Veio ainda criança estudar para Lisboa, iniciando muito cedo a sua actividade literária. Importante figura da cultura portuguesa da segunda metade do século XX, notabilizou-se como poetisa, ensaísta, romancista, passando pelo teatro e investigação literária, Natália foi também uma figura destacada da luta contra o fascismo. Vários livros seus foram apreendidos pela censura, tendo sido condenada a três anos de prisão com pena suspensa, por abuso de liberdade de imprensa. Foi também deputada depois do 25 de Abril e também nesse papel foi uma figura marcante e inesquecível. Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. A sua obra está traduzida em várias línguas.
Obras poéticas: "Rio de Nuvens" (1947), "Poemas" (1955), "Dimensão Encontrada" (1957), "Passaporte" (1958), "Comunicação" (1959), "Cântico do País Imerso" (1961), "O Vinho e a Lira" (1966), "Mátria" (1968), "As Maçãs de Orestes" (1970), "Mosca Iluminada" (1972), "O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro" (1973), "Poemas a Rebate" (1975), "Epístola aos Iamitas" (1976), "O Dilúvio e a Pomba" (1979), "Sonetos Românticos" (1990), "O Armistício" (1985), "O Sol das Noites e o Luar nos Dias" (1993), "Memória da Sombra" (1994).
Ficção: "Anoiteceu no Bairro" (1946), "A Madona" (1968), "A Ilha de Circe" (1983).
Teatro: "O Progresso de Édipo" (1957), "O Homúnculo" (1965), "O Encoberto" (1969), "Erros meus, má fortuna, amor ardente" (1981), "A Pécora" (1983).
Ensaio: "Poesia de arte e realismo poético" (1958), "Uma estátua para Herodes" (1974).
Obras várias: "Descobri que era Europeia" (1951 - viagens), "Não Percas a Rosa" (1978 - diário), "A questão académica de 1907" (1962), "Antologia da Poesia Erótica e Satírica" (1966), "Cantares Galego-Portugueses" (1970), "Trovas de D. Dinis" (1970), "A Mulher" (1973), "O Surrealismo na Poesia Portuguesa" (1973), "Antologia da Poesia Portuguesa no Período Barroco" (1982), "A Ilha de São Nunca" (1982).
Faleceu em Lisboa em 1993.
ODE À PAZ
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego, dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves Outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
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