Espreitem o Pé de Vento [23/Março/04] sem medo ou sustos, pois é apenas uma leve brisa que sopra do coração.
26 agosto 2004
Relacionamentos? - Amar sem ser amado(a)
Sabe quando a gente olha em volta e não vê ninguém?
Quando percebemos, que por algum motivo, ficamos completamente sós?
Quando, apesar de procurarmos, não somos capazes de encontrar ninguém com quem desejemos estar?
Talvez seja esse o momento certo para reflectirmos sobre relacionamentos.
Só, o ser humano valoriza muito mais o que significa estar acompanhado.
Em total solidão, somos capazes de compreender que exageramos na dose de intolerância com que temos brindado amigos e companheiros.
Revisitando antigas relações, nos damos conta de que as estranhas manias e os hábitos aparentemente insuportáveis de nossos ex – maridos, amantes ou namorados, não eram assim tão graves, e até poderiam ter sido suportados se tivéssemos de volta, pelo menos, algumas das inúmeras coisas boas que compartilhamos com eles.
O facto é que esse inventário minucioso das relações, a que nos obriga a insónia, com os pés gelados, na cama de casal imensa, que a solidão muitas vezes transforma em instrumento de tortura, pode nos conduzir a algumas conclusões bastante úteis, se ainda tivermos forças para buscar e concretizar, a partir delas, novos relacionamentos.
A primeira coisa que descobrimos, é que viver e deixar viver é muito mais do que uma frase de efeito. É uma realidade que evita muita confusão.
Respeito é bom e eu gosto, passa ser uma espécie de lema, que a postura corporal denuncia, antes mesmo que lampeje em nossos olhos, para que nossa boca nunca mais tenha que pronunciar.
Outra coisa que aprendemos lentamente, mas para sempre, é que não vale a pena usar feitiços e artimanhas para conquistar nada nem ninguém.
Se alguém vier a gostar de alguma coisa em nós terá que ser de nossa cara lavada de todo dia, e não da face de boneca glamurosa que exibimos uma vez na vida, em festas e recepções.
Ninguém é perfeito, muito menos nós, e, até por causa disso, todo chilique é desculpável, e deve ser acolhido, na pior das hipóteses, com silêncio, e na melhor, com risadas, se elas não piorarem as coisas, é claro.
Gosto não se discute, e por mais estranho que pareça, pode ser compartilhado em ocasiões especiais.
A mais difícil conclusão a que chegamos, sobre relacionamentos, é que eles exigem de nós um reconhecimento profundo das necessidades e limites de cada um e do todo.
Manter e sustentar um relacionamento é aceitar, sem qualquer tipo de sentimento de rejeição, sem cobrança, sem mágoa, sem cara feia, sem negação, sem manipulação, sem vingança, sem perversão, a qualidade e a quantidade de afecto que o outro está disposto a oferecer, nem mais, nem menos, como e quando ele quiser expressá-lo.
Esta forma de relacionar-se é a única que nos permite estabelecer relações construtivas com toda e qualquer pessoa, mesmo as que não simpatizam connosco ou as que – declaradamente, ou em segredo – não gostam de nós.
Relacionar-se segundo essas premissas torna possível compreender que, apesar de nossos sentimentos não serem correspondidos na mesma medida, estas diferenças de frequência e de intensidade não inviabilizam nenhum relacionamento.
Se prezamos nossa liberdade e a legitimidade de nossos sentimentos, porque não respeitamos na mesma medida as de nossos semelhantes?
Considerando as relações sob este prisma, e aplicando esses conceitos na prática, veremos que é possível assumir nossos sentimentos, e, ao mesmo tempo respeitar os sentimentos do outro, sem atritos nem constrangimentos.
É por causa disso que sempre afirmo, para quem quiser ouvir, desmentindo toda a retórica romântica, que é possível se sentir livre e feliz, amando sem ser amado, conviver em paz e serenidade, com alguém por quem estamos apaixonados, mesmo sabendo que não somos correspondidos.
Manter uma relação saudável e honesta é estar aberto, sem oferecer-se, ser sensível sem chocar-se, ser afectuoso sem ser permissivo, pensar por dois sem deixar de ser um, obedecer a protocolos sem ter medo de pisar em ovos, desejar sem possuir, demonstrar sentimentos sem ostentá-los, ser livre para tocar e ser tocado, ter coragem suficiente para dizer um sim e para ouvir um não.
O amor passional e compulsivo, aquele que exige correspondência, que compara, mede e pesa demonstrações de afecto, que especula sobre intensidade e qualidade de sentimentos, que raciona e condiciona expressões de ternura, inviabiliza, cedo ou tarde, qualquer relacionamento.
O encanto da convivência é a mobilidade e a variedade com que o outro nos demonstra, a cada dia, sua aceitação à nossa própria mobilidade e variedade de reacções.
Quanto mais o outro nos surpreende com sua tolerância e compreensão, mais confiamos nele, e mais aspectos novos somos capazes de expor.
Relacionar-se é penetrar cada dia mais fundo na infinita manifestação divina que é essa pessoa que está diante de nós, e que desejamos conhecer.
Quando conhecemos alguém que nos atrai especialmente, iniciamos uma queda em câmara lenta na direcção desse ser. Circulamos ao redor dele como um satélite, sujeitamo-nos às leis universais de atracção e repulsão.
E como corpos celestes, a máxima intimidade que conseguiremos, a despeito de tudo o que puder ser feito no plano físico, será sempre energético, será sempre Luz.
Da telepatia à cópula, relacionar-se é trocar energia de forma selectiva e isso não se faz em vão.
Relacionar-se é dar ao amor incondicional o colorido das emoções e sentimentos de uma parcela individualizada da divindade em acção.
Se melhoramos a qualidade de nossos relacionamentos aceleramos a evolução nossa e da humanidade inteira.
Se formos capazes de amar verdadeiramente a um único ser, por ele amaremos a todo o Universo.
Porque somos todos um.
(Autora: Maria Guida)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Reencontros ou…partidas da vida?
(foto de Álvaro Rocho) Há uns dias, reencontrei alguém que não via há 18 anos… Fiquei admirada, pois não esperava esta surpresa da vida,...
-
Quando começamos a escrever, não escrevemos com a intenção de contar as palavras ou as letras, escrevemos porque nos apetece e terminamo...
-
Se ninguém deixaria de ser feliz por nós, porque deixaríamos que a nossa felicidade dependa dos outros? Pensem nisso e...OUSEM SER FELI...
-
Partiu meu coração vê-lo tão sozinho e confuso. De repente vi os seus olhos lacrimejantes enquanto ele olhava para os meus. Então lati com t...
Sem comentários:
Enviar um comentário