06 abril 2004

Viver não dói




Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das
coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos
conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos porquê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a
sofrer pelas nossas projecções irrealizadas, por todas as cidades que
gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos ,por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por
todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não
porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos
os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas
mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está
sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos
aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a
experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos
também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

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